Toxina Botulínica: mistérios que persistem
sobre o procedimento |
*Ligia Kogos
Acho
engraçado que após 13 anos de franco uso da Toxina Botulínica
(Botox) no Brasil, com tantas reportagens na mídia, tantos mitos, mentiras
e mistérios persistem acerca desse procedimento.
Sou perguntada freqüentemente sobre “boca de Botox”, “muito
Botox”, "pouco Botox", “cara de Botox”, “creme
de efeito Botox” “Botox-like“ e constato então que as
pessoas, de modo geral, ainda nada sabem sobre este importante avanço representado
pela toxina botulínica na preservação da aparência.
Esta toxina na verdade é uma proteína produzida por bactérias
aplicada de forma precisa nos grupos musculares certos que consegue eliminar rugas
da testa, da lateral dos olhos, melhora muito a flacidez do pescoço, ergue
o canto dos lábios e as sobrancelhas, conferindo uma expressão serena
e animada. Por isso, nunca poderia existir um “creme Botox”, pois
ele atingiria todo o rosto e o resultado seria desastroso!
Além disso, o Botox trata o incômodo problema da transpiração
excessiva nas axilas, palmas das mãos e pés, resolve o estigma dos
tiques nervosos e algumas paralisias faciais, sem falar no seu uso na medicina
em geral: estrabismo, dores de cabeça, incontinência urinária,
paralisias de mão e braços e até mesmo vaginismo (casos de
mulheres que contraem tanto a vagina que impedem o relacionamento sexual normal).
O Botox deve ser aplicado por um médico treinado, feito “sob medida”,
personalizado para cada paciente. Não o há “muito Botox”,
“pouco Botox”, há Botox mal aplicado ("bad botox“
)... Existem, sem dúvida, profissionais menos habilidosos, com menor senso
estético. Este refinamento, este tino para a beleza depende não
só da habilidade técnica em medicina, mas também da cultura
geral, do conhecimento de Arte e História! A falta de noções
de harmonia pode ocasionar resultados discutíveis, datados, que se tornam
caricatos em poucos anos.
Toxina Botulínica também não serve para aumentar volume
de coisa alguma! Assim, lábios cheios demais decorrem provavelmente de
muito preenchimento (materiais injetáveis que são usados para preencher
rugas e aumentar volumes) e não de muito Botox.
O efeito deste recurso estético dura pelo menos 4 ou 5 meses ... Com
o passar do tempo, repetindo-se as aplicações, a musculatura se
condiciona, os efeitos se prolongam mais e mais, passa-se a necessitar menos ainda
dele, os intervalos podem tornar-se mais espaçados.
Louva-se e critica-se ferozmente o Botox, uma certa hostilidade contra quem
se cuida. Mas o desejo de melhorar sempre existiu; as pessoas não devem
se sentir culpadas por quererem atingir melhor aparência. O médico
é que deverá fazer o que for melhor para seu paciente, para que
se alcance o melhor resultado com o máximo de segurança e o menor
gasto, a beleza sem vulgaridade, sem padronizações. O paciente poderá
ter os mais diversos perfis: poderá ser uma garota ingênua, um executivo
bem informado, uma mulher sofisticada, uma dona de casa simples que quer fazer
seu primeiro tratamento ou uma atriz vigiada pela mídia. Todos neste breve
momento serão criaturas vulneráveis, que deverão ser bem
cuidadas pelo médico, protegidas de todo o mal.
Mas atenção! Botox jamais deve ser comentado. Deve permanecer
em segredo, um pacto de honra entre o médico e seu paciente, nunca confessado,
sob pena de quebrar-se o encanto.
* Dra. Ligia Kogos é dermatologista, formada pela Universidade Federal
se São Paulo (UNIFESP), membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia,
da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Sociedade Brasileira
de Medicina Estética.
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