A febre da toxina botulínica
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Estima-se
que a toxina botulínica movimente mais de R$100 milhões de reais
por ano no país, graças à explosão de consumo que
ocorreu a partir do ano 2000, quando a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária—Anvisa, liberou a comercialização da substância
no mercado brasileiro. Independente da especificidade da toxina botulínica,
é importante esclarecer que nem tudo pode ser corrigido com o produto,
que parece ter surgido como o salvador da pele de muitas mulheres.
Há cinco anos, quem quisesse atenuar as marcas do envelhecimento se
submetia ao “corta, puxa e costura” da cirurgia plástica. Hoje,
o ramo da estética oferece opções variadas e específicas
para cada imperfeição cosmética. Quem imaginou que as rugas
de expressão desaparecessem com apenas uma picada de agulha? E mais: sem
intervenção cirúrgica nem anestesia. Com a toxina butolínica
a especulação virou realidade. O segredo é que a substância
interfere nos músculos, região que a cirurgia plástica não
alcança.
O consumo da toxina botulínica colocou o Brasil em segundo lugar no
ranking, perdendo apenas para os EUA. Antigamente ele era usado apenas para fins
terapêuticos. Aplicava-se a toxina para aliviar dores de cabeça intensas.
Como efeito colateral, notava-se nos pacientes a atenuação das rugas
de expressão. Daí não demorou para que a toxina fosse usada
para objetivos estéticos.
A aplicação da substância dura aproximadamente dez minutos,
com uma leve picada de agulha em cada ponto do rosto. A paralisia muscular, causada
pela aplicação, volta ao normal em cerca de 6 meses, sendo necessária
uma nova aplicação para manter o efeito. Isso acontece não
porque a toxina botulínica perde o efeito. Na verdade, ele obstrui os receptores
musculares e fica lá para sempre. Mas depois de um tempo, o músculo
forma novos receptores e volta a contrair-se.
Novas aplicações não devem ser feitas em menos de seis
meses, já que o uso freqüente da toxina pode estimular a produção
de anticorpos. Quanto aos efeitos colaterais, se utilizada corretamente, a toxina
não traz prejuízo para a saúde, nem toxicidade, uma vez que
a dose é pequena. O máximo que pode acontecer é a substância
infiltrar-se em regiões adjacentes, causando a queda da pálpebra,
por exemplo.
Devemos lembrar que a utilidade da toxina botulínica não pode
ser confundida com outros procedimentos. Existem problemas que a toxina não
soluciona, e outros que a cirurgia não pode corrigir. Por essa razão
é preciso distinguir quais os casos mais adequados para cada aplicação.
A flacidez da pele decorrente do envelhecimento, por exemplo, demanda uma intervenção
cirúrgica. Quando a pele perde a sustentação, a única
maneira de corrigir o problema é com a cirurgia plástica, que vai
cortar e eliminar o excesso cutâneo. Já o uso da toxina está
relacionada com a ação dos músculos faciais, que são
responsáveis pelos diferentes aspectos da mímica do rosto humano.
Esses músculos servem para demonstrar emoções. Porém,
com o passar dos anos, as contrações causam sulcos na pele que podem
tornar-se permanentes, conhecidas como rugas de expressão. Esse problema
pode ser corrigido, atenuado ou prevenido com a aplicação da toxina
botulínica, que causa a paralisa destes músculos.
Já as rugas finas e manchas na pele, decorrentes do envelhecimento pela
exposição prolongada ao sol, não podem ser corrigidas por
plástica. Os pequenos sulcos e a má distribuição da
coloração cutânea só podem ser atenuados com um lixamento
da superfície da pele, conhecido como peeling.
* Dra. Deusa Pires Rodrigues, é especialista em cirurgia plástica
e membro efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
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