As mais vaidosas do mundo
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Quando
o assunto é vaidade, ninguém é páreo para as brasileiras.
Elas são as que mais se preocupam em manter o corpo alinhado e a fisionomia
jovial e se desvelam para aprimorar o que a natureza lhes deu (e que o tempo,
aos poucos, se encarrega de roubar). Em nenhum lugar, a cirurgia plástica
é encarada com tanta naturalidade quanto no Brasil – nem nos Estados
Unidos, país que, em números absolutos, lidera o ranking das intervenções
estéticas. O cuidado das brasileiras com a aparência está
quantificado numa pesquisa com 21.000 mulheres, de 24 países, concluída
recentemente. A sondagem foi encomendada pela Avon, uma das maiores multinacionais
na área de cosméticos, e serve para auxiliar a companhia a traçar
suas estratégias nos quatro cantos do mundo.
Muitos dos resultados dessa grande pesquisa são surpreendentes. Engana-se,
por exemplo, quem pensa que as brasileiras se arrumam e se perfumam para agradar
a seus companheiros ou causar inveja a suas rivais. A esmagadora maioria se embeleza
principalmente para si própria. Apenas 19% das brasileiras se enfeitam
para os outros. Para efeito de comparação, esse índice chega
a 30% entre as italianas.
Confiantes, elas não titubeiam em afirmar que as mulheres mais sexy
do mundo são... as brasileiras. Ou seja, além de vaidosas, revelam-se
também muito convencidas. Tanta auto-estima é compreensível
em se tratando de um país que tem Gisele Bündchen, Ana Hickmann, Camila
Pitanga, Aline Moraes e outras beldades que fazem babar os marmanjos de todas
as latitudes.
Um intelectual teria provavelmente duas explicações para tamanha
vaidade – uma de ordem sociológica e outra de ordem geográfica.
A sensualidade seria um dos traços formativos do povo brasileiro, como
analisa à exaustão o pernambucano Gilberto Freyre no clássico
Casa-Grande & Senzala. E não há como ser sensual sem ser (ou
parecer) bonito. Nas mulheres, naturalmente, a característica se acentuaria
ainda mais. Essa é a explicação sociológica. A outra,
geográfica, é que o Brasil é um país de clima predominantemente
tropical, o que leva as pessoas a usar menos roupa. O que vaidade tem a ver com
as calças (ou a falta delas, para ser mais exato)? Bem, desse ponto de
vista, que recende ao mais inequívoco determinismo, corpos mais à
mostra são diretamente proporcionais à preocupação
em esconder imperfeições que o espelho insiste em refletir. E as
mulheres, naturalmente...
Nenhuma das explicações o convence? Se é assim, vamos
à justificativa mais chã. Para usar aquela frase que ficou famosa
na boca do ex-presidente americano Bill Clinton, "é a economia, estúpido".
A vaidade exibida atualmente pelas brasileiras tem fortes raízes na expansão
que, apesar de todos os contratempos, o Brasil experimentou nos últimos
anos. A entrada de cosméticos importados no mercado nacional no início
dos anos 90, a melhora na qualidade dos produtos nacionais e a estabilização
da moeda ajudaram a impulsionar a indústria da beleza no país. "Tudo
isso contribuiu para que houvesse uma explosão de consumo", diz Marcos
Rothenberg, presidente da Associação dos Distribuidores e Importadores
de Perfumes e Cosméticos. Explosão, aqui, não é uma
simples imagem. Hoje, o Brasil já é o quinto maior mercado consumidor
de cosméticos do mundo. Nos últimos seis anos, o crescimento do
setor foi de 75%, sete vezes mais do que o registrado pela economia brasileira
no mesmo período. Com o aperfeiçoamento da tecnologia de fabricação
de cosméticos e o aumento dos canais de distribuição (especialmente
o das vendas porta a porta), o preço desses produtos caiu drasticamente
– 48%, nos últimos seis anos. Há dez anos, quando foi lançado
pela Avon, um potinho do anti-rugas Renew custava um salário mínimo.
Hoje, ele sai por um quarto do mínimo. O barateamento dos cosméticos
e sua maior diversificação são, sem dúvida, um outro
incentivo a que a vaidade desabroche.
O crescimento da indústria cosmética começou a se desenhar
há cerca de vinte anos, quando as mulheres fincaram de vez sua bandeira
no mercado de trabalho. Com dinheiro próprio para gastar, elas começaram
a investir mais nos cuidados com a beleza. Não só para massagear
o ego, como também para atender a uma exigência do moderno mundo
dos negócios, no qual a boa aparência conta muito. Segundo a pesquisa
da Avon, no Brasil, para 90% das mulheres os cosméticos são uma
necessidade, e não um luxo. Nos Estados Unidos, elas somam 67%. E na Europa
Ocidental, 73%, em média. Imagem, enfim, é tudo para elas. Quase
90% das brasileiras entrevistadas disseram que a aparência é importante
para definir o que são.
Fonte: Revista Veja
Edição de 3 de setembro de 2003
Por Anna Paula Buchalla
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