05 de julho de 2004

Transplante de Cabelo no Brasil: dos anos 60 até os dias atuais

Transplante de Cabelo no Brasil: dos anos 60 até os dias atuais



Transplante de Cabelo no Brasil:
dos anos 60 até os dias atuais

O primeiro brasileiro a realizar uma cirurgia de Transplante de Cabelo foi o Dr. David Adler por volta de 1961 e, como a maioria de nossos colegas, fez mas não publicou. Após mais de três décadas de relativa inércia, a restauração cirúrgica do cabelo no Brasil está passando por uma grande revolução.

O que fazíamos nos anos 60? Transplantávamos tufos com 4 milímetros de diâmetro e tanto médico como paciente ficavam maravilhados ao verem os cabelos que nasciam e continuavam a crescer para sempre na área calva. Esse milagre obscureceu o verdadeiro objetivo padrão em Cirurgia Estética: melhorar a aparência do paciente.

A facilidade técnica na execução desses transplantes nos fazia esquecer que, além dos resultados com aparência pouco natural, tínhamos uma alta porcentagem de perda das raízes com esse método. A lógica nos dizia que, colocando aqueles enxertos como se fossem as casas de um tabuleiro de xadrez, deixando espaços livres e depois preenchendo esses espaços, poderíamos, após várias sessões, repor toda a área calva com pele contendo raízes de cabelo.

Essa técnica, conhecida como transplante de tufos, colhia os enxertos de couro cabeludo das regiões imunes à calvície comum: as áreas posterior e lateral. O aproveitamento era pequeno e os pacientes ficavam sem área doadora antes que o objetivo de cobertura total fosse alcançado.

As incisões que criávamos nas áreas doadora e receptora cicatrizavam-se por si mesmas, deixando inúmeras cicatrizes arredondadas. As sessões eram pequenas (20 a 40 enxertos). Aguardávamos então o tempo necessário para a sessão seguinte. A consciência de que a reposição total da área calva por área com cabelo era impossível levou os cirurgiões a criar outras alternativas como reduções cirúrgicas de área calva, enxertos livres em forma de tiras e retalhos de couro cabeludo na linha da frente. Mesmo assim, o capital precioso da área doadora era rapidamente consumido e os resultados a longo prazo deixavam a desejar.

Em 1984, o pesquisador americano Headington, estudando microscopicamente o couro cabeludo, teve uma explicação mais detalhada de como nasciam os cabelos, definindo o que chamou de unidades foliculares. Essa moderna descrição da unidade folicular mostrou-nos como imitar o cabelo normal, colhendo e transplantando as raízes da mesma maneira como elas se encontram na natureza. Já se dizia há muito que um enxerto de cabelo é melhor quanto menor for. Se o enxerto for grande os cabelos irão crescer com aparência artificial. Se tivéssemos seguido essa orientação desde o começo, evitaríamos anos de resultados cirúrgicos artificiais causados pelas técnicas de enxerto de tufos e retalhos. Hoje esse retorno ao passado é denominado Transplante de Unidades Foliculares ou pela expressão brasileira = Transplante de Cabelo Fio a Fio.

Pela colheita microscópica de uma elipse de couro cabeludo, retirada das áreas posterior ou laterais, obtemos essas unidades foliculares que são a seguir transplantadas para as áreas calvas em incisões feitas por micro lâminas. O aproveitamento dessa elipse em termos de raízes de cabelo obtidas é quase total, bem maior do que na coleta por punção de tufos.

As grandes incisões do passado, apesar da excelente irrigação do couro cabeludo, provocavam diminuição da circulação. A importância em minimizar as incisões em qualquer procedimento cirúrgico é aqui mais uma vez demonstrada: As diminutas incisões feitas na área receptora com mínima lesão da circulação permitem o transplante de um número maior e mais próximo de enxertos. Após a cirurgia, esses enxertos menores sofrem pouco e se integram mais facilmente.

Temos, assim, um transplante com aparência natural, com cabelos emergindo de um couro cabeludo aparentemente sem cicatrizes. A sutura da área doadora causa cicatrização mais rápida, mais saudável, deixando maior área intacta, permitindo assim novas intervenções quando desejado. A maioria dos cirurgiões brasileiros de Calvície vem utilizando essa delicada técnica e os resultados têm aprimorado a alta qualidade estética que já havíamos conseguido.

Muitos pacientes viajam de outros países para submeter-se ao transplante de cabelo no Brasil, buscando um bom resultado e além disso aproveitando a vantagem cambial. Uma discussão ainda acesa entre os colegas brasileiros que se dedicam ao transplante de cabelo é que os tufos dão ao paciente aparência de maior densidade ao passo que as unidades foliculares oferecem mais naturalidade, mas deixam a desejar em densidade. Talvez, como acontece com freqüência em medicina, a virtude esteja no meio.

Com a criação da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Restauração Capilar, a fraternidade e o estudo conjunto promovido terá como resultado a troca de conhecimentos e o aprimoramento dos resultados de nossas cirurgias.

* Dr. Marcelo Gandelman é um dos fundadores e atual presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Restauração Capilar e ex-presidente da International Society of Hair Restoration Surgery dos Estados Unidos.