Transplante de Cabelo no Brasil:
dos anos 60 até os dias atuais
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O
primeiro brasileiro a realizar uma cirurgia de Transplante de Cabelo foi o Dr.
David Adler por volta de 1961 e, como a maioria de nossos colegas, fez mas não
publicou. Após mais de três décadas de relativa inércia,
a restauração cirúrgica do cabelo no Brasil está passando
por uma grande revolução.
O que fazíamos nos anos 60? Transplantávamos tufos com 4 milímetros
de diâmetro e tanto médico como paciente ficavam maravilhados ao
verem os cabelos que nasciam e continuavam a crescer para sempre na área
calva. Esse milagre obscureceu o verdadeiro objetivo padrão em Cirurgia
Estética: melhorar a aparência do paciente.
A facilidade técnica na execução desses transplantes nos
fazia esquecer que, além dos resultados com aparência pouco natural,
tínhamos uma alta porcentagem de perda das raízes com esse método.
A lógica nos dizia que, colocando aqueles enxertos como se fossem as casas
de um tabuleiro de xadrez, deixando espaços livres e depois preenchendo
esses espaços, poderíamos, após várias sessões,
repor toda a área calva com pele contendo raízes de cabelo.
Essa técnica, conhecida como transplante de tufos, colhia os enxertos de
couro cabeludo das regiões imunes à calvície comum: as áreas
posterior e lateral. O aproveitamento era pequeno e os pacientes ficavam sem área
doadora antes que o objetivo de cobertura total fosse alcançado.
As incisões que criávamos nas áreas doadora e receptora
cicatrizavam-se por si mesmas, deixando inúmeras cicatrizes arredondadas.
As sessões eram pequenas (20 a 40 enxertos). Aguardávamos então
o tempo necessário para a sessão seguinte. A consciência de
que a reposição total da área calva por área com cabelo
era impossível levou os cirurgiões a criar outras alternativas como
reduções cirúrgicas de área calva, enxertos livres
em forma de tiras e retalhos de couro cabeludo na linha da frente. Mesmo assim,
o capital precioso da área doadora era rapidamente consumido e os resultados
a longo prazo deixavam a desejar.
Em 1984, o pesquisador americano Headington, estudando microscopicamente o couro
cabeludo, teve uma explicação mais detalhada de como nasciam os
cabelos, definindo o que chamou de unidades foliculares. Essa moderna descrição
da unidade folicular mostrou-nos como imitar o cabelo normal, colhendo e transplantando
as raízes da mesma maneira como elas se encontram na natureza. Já
se dizia há muito que um enxerto de cabelo é melhor quanto menor
for. Se o enxerto for grande os cabelos irão crescer com aparência
artificial. Se tivéssemos seguido essa orientação desde o
começo, evitaríamos anos de resultados cirúrgicos artificiais
causados pelas técnicas de enxerto de tufos e retalhos. Hoje esse retorno
ao passado é denominado Transplante de Unidades Foliculares ou pela expressão
brasileira = Transplante de Cabelo Fio a Fio.
Pela colheita microscópica de uma elipse de couro cabeludo, retirada das
áreas posterior ou laterais, obtemos essas unidades foliculares que são
a seguir transplantadas para as áreas calvas em incisões feitas
por micro lâminas. O aproveitamento dessa elipse em termos de raízes
de cabelo obtidas é quase total, bem maior do que na coleta por punção
de tufos.
As grandes incisões do passado, apesar da excelente irrigação
do couro cabeludo, provocavam diminuição da circulação.
A importância em minimizar as incisões em qualquer procedimento cirúrgico
é aqui mais uma vez demonstrada: As diminutas incisões feitas na
área receptora com mínima lesão da circulação
permitem o transplante de um número maior e mais próximo de enxertos.
Após a cirurgia, esses enxertos menores sofrem pouco e se integram mais
facilmente.
Temos, assim, um transplante com aparência natural, com cabelos emergindo
de um couro cabeludo aparentemente sem cicatrizes. A sutura da área doadora
causa cicatrização mais rápida, mais saudável, deixando
maior área intacta, permitindo assim novas intervenções quando
desejado. A maioria dos cirurgiões brasileiros de Calvície vem utilizando
essa delicada técnica e os resultados têm aprimorado a alta qualidade
estética que já havíamos conseguido.
Muitos pacientes viajam de outros países para submeter-se ao transplante
de cabelo no Brasil, buscando um bom resultado e além disso aproveitando
a vantagem cambial. Uma discussão ainda acesa entre os colegas brasileiros
que se dedicam ao transplante de cabelo é que os tufos dão ao paciente
aparência de maior densidade ao passo que as unidades foliculares oferecem
mais naturalidade, mas deixam a desejar em densidade. Talvez, como acontece com
freqüência em medicina, a virtude esteja no meio.
Com a criação da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Restauração
Capilar, a fraternidade e o estudo conjunto promovido terá como resultado
a troca de conhecimentos e o aprimoramento dos resultados de nossas cirurgias.
* Dr. Marcelo Gandelman é um dos fundadores e atual presidente da
Sociedade Brasileira de Cirurgia de Restauração Capilar e ex-presidente
da International Society of Hair Restoration Surgery dos Estados Unidos.
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